quarta-feira, 1 de março de 2017

EFICIÊNCIA DOS GRUPOS PEQUENOS

INTRODUÇÃO



Nosso desejo é que esse material, que não é outra coisa senão um resumo de obras e autores que refletem sobre o tema dos Pequenos grupos, possa ajudar a formar uma nova geração de líderes que acreditam no potencial do PG e veem no Pequeno Grupo um caminho para a comunhão profunda e o evangelismo por relacionamentos.
Este material não pretende ser exaustivo no que se refere ao tema, mas deseja apresentar os principais conceitos e fundamentá-los.
É importante discernir que, acima de tudo, o método e a técnica não substituem o coração, mas que um coração pulsante por Jesus e pelo Pequeno Grupo devidamente treinado nos conceitos e na técnica tem o melhor a oferecer para o Reino e para o Rei do Reino.
Que você possa sentir seu coração arder pelo desafio de ser um líder de uma pequena igreja, pois é isso que o PG é quando está reunido: “Pois onde se reunirem dois ou três em meu nome, ali eu estou no meio deles” (Mt 18.20).
No momento em que nosso envolvimento com a igreja se aprofunda, pode ser que passemos a experimentar um sentimento no mínimo contraditório. Por um lado começamos a entender melhor o que é a igreja na visão das Escrituras, o que a Bíblia diz que a igreja deveria ser. Por outro, vivenciamos a realidade cotidiana da comunidade, o que a igreja de fato é. Dependendo da igreja na qual congregamos, a diferença entre o que a nossa igreja é e o que a Bíblia diz que a igreja deveria ser pode ser preocupante e em alguns casos assustadora. Ou seja: pode ser que olhemos para a nossa comunidade e não vejamos adoração sincera, relacionamentos redimidos baseados em amor, oração profunda, cuidado mútuo e um impulso missionário na direção dos perdidos e aflitos.A igreja é o povo de Deus, aqueles que Jesus congregou por meio de sua morte e ressurreição. Contudo, como a igreja é a reunião de pecadores redimidos, seres humanos ainda cheios de falhas e imperfeições, vemos que por vezes a comunidade cristã por vezes se torna confusa, contraditória, vazia de relacionamentos e excessivamente ritualista e superficial, podendo até mesmo deteriorar em uma dinâmica cheia de hipocrisia, julgamento e finalmente perversão

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SINAIS DE ALERTA

A primeira é a visão do clero como aquele que tem e fornece acesso a Deus ao invés do sacerdócio universal.

A segunda é a concepção do templo como lugar sagrado ao invés de compreender que nós, as pessoas que estão em Cristo, somos o templo sagrado do Espírito.

A terceira é o culto como a forma sagrada de relacionar-se com Deus ao invés de ver a vida inteira como uma forma de adorar, louvar e servir ao Criador, com nosso trabalho inclusive.

O quarto é o domingo como dia sagrado, ao invés de compreender que todos os dias são dias de servir e honrar o Salvador. A estas quatro quero acrescentar mais duas características.

A quinta é o profundo individualismo que tem tornado nossas igrejas indiferentes e com relacionamentos completamente superficiais.

A sexta é a visão de entretenimento, que tem feito os membros compreenderem que a função da igreja é servir seus próprios membros e não a sociedade, os perdidos, os aflitos, os de fora.

Esses são sintomas que atestam que a igreja precisa de um reavivamento vindo do próprio Senhor e já se manifestaram em outros momentos da história da igreja cristã, embora em menor escala. Uma das estratégias utilizadas ao longo da história para reverter tais sintomas tem sido redescobrir o que são e como funcionam os chamados pequenos grupos.

Capitulo 1 " CONCEITOS DE PEQUENOS GRUPOS "


Primeiramente, vamos procurar compreender o que é o conceito de Pequenos Grupos, como eles foram sendo modelados e remodelados por diferentes movimentos na história da igreja bem como o que as Escrituras nos dizem a respeito dos Pequenos Grupos.


Movimentos de Pequenos Grupos


Ao longo da história vários líderes cristãos buscaram maneiras de reverter a falta de saúde, maturidade e evangelismo de suas igrejas. Ao longo dos séculos muitos líderes viram nos pequenos grupos uma estratégia eficaz para que pudessem levar a igreja a reencontrar seu caminho como comunidade de Cristo. Enquanto apenas os grandes encontros de domingo eram enfatizados, percebeu-se o enfraquecimento dos relacionamentos, a diminuição do sentimento de pertença e do impulso missionário.

Contudo, como veremos mais adiante, os pequenos grupos não foram inventados mas redescobertos ao longo dos séculos em diferentes moldes e enfatizados por movimentos que buscavam recobrar a saúde da igreja.

Já no século XVII, Philip Jacob Spener (1635-1705) iniciou um movimento de pequenos grupos que foi denominado de “reunião piedosa” (collegia pietatis). Seu objetivo era consolidar a fé de pessoas já cristãs.2 No século XVIII John Wesley também enfatizou a importância dos pequenos grupos visando a comunhão entre os cristãos e o cuidado pastoral sobre eles. Wesley concebeu então o conceito de “classes” lideradas por pessoas idôneas.3 No século XX o grande precursor do movimento de pequenos grupos foi David (Paul) Yonggi Cho, pastor da Igreja do Evangelho Pleno, na Coréia. Cho utilizou os “grupos familiares” como parte da estratégia de sua igreja para crescer e disseminou o conceito de pequenos grupos por meio de livros e conferências.4 Já Ralph Neighbour implantou nos EUA o ministério TOUCH (Transformando pessoas sob as mãos de Cristo). Neighbour não adicionou a sua igreja um programa de grupos pequenos, mas substituiu completamente a maneira da organização e do governo tradicional pelos pequenos grupos, se tornando um igreja “em” pequenos grupos (ao invés de “com” pequenos grupos).

Podemos citar ainda os pequenos grupos de Lyman Coleman (EUA), o movimento “igreja em células” de Roberto Lay (Brasil), o movimento G-12 iniciado por César Castelhanos (Colômbia), a Rede Ministerial de Fortaleza (Brasil), o Desenvolvimento Natural da Igreja (EUA), a Associação Mundial de Discípulos (Brasil) e outros movimentos que utilizam os pequenos grupos como sua estratégia principal.5 Contudo, devemos ter em mente que esses movimentos desejam na verdade apenas resgatar algo que os cristãos primitivos conheciam bem, como afirma John Stott: “O que mais me chama a atenção na adoração da igreja primitiva é o seu equilíbrio em relação a dois aspectos: a adoração era tanto formal como informal, pois ocorria no templo e nas casas. Como complemento dos cultos, havia as reuniões mais informais nas casas, além do culto distintivo dos cristãos, com a celebração da Eucaristia. A igreja primitiva praticava os dois tipos de adoração, e nós devemos fazer o mesmo. Todas as congregações, pequenas e grandes, deveriam dividir-se em pequenos grupos”

Os Pequenos Grupos no Antigo Testamento


O conceito de uma comunidade que existe em grande grupo e em pequenos grupos não é algo novo. Na verdade as Sagradas Escrituras trazem narrativas importante para compreendermos o Pequeno Grupo, suas diversas funções e seu lugar na vida da igreja. Talvez o primeiro texto das Escrituras nos quais um grande grupo se divide intencionalmente em grupos menores por motivos estratégicos seja o “Caso Jetro”. Essa narrativa está registrada em Êxodo 18 e é certamente a passagem mais citada do Antigo Testamento quando se trata de pequenos grupos.7 Esta narrativa nos conta que Jetro, sogro de Moisés, veio visitar seu genro após a saída miraculosa do Egito e a passagem pelo mar. Após os eventos que libertaram Israel do cativeiro egípcio, Moisés se tornou de fato o líder daquela nação e dentre seus encargos dois se tornaram os principais: instruir o povo acerca da lei de Deus e julgar as causas que surgiam no meio do povo

Jetro viu que Moisés estava sobrecarregado e o povo estava sendo penalizado por essa excessiva centralização. Então Jetro aconselhou Moisés a descentralizar o poder judicial que estava em suas mãos escolhendo homens que liderassem dez, cinquenta, cem e mil pessoas, formando várias instâncias. Comentando essa decisão estratégica, Chiavenato afirma que por meio dela Israel deu um salto administrativo e adquiriu uma clara e definida estrutura hierárquica.
De fato, na perspectiva de Jetro haveria menos causas chegando a Moisés e o mesmo poderia se dedicar mais intensamente a seu papel como profeta para a nação (v.19,20).
Um elemento essencial nesta narrativa é que Jetro deixa claro a Moisés que esse sistema piramidal de delegação só funcionaria se houvesse integridade ética na vida dos líderes escolhidos. Caso contrário, a delegação não funcionaria e o projeto seria um desastre.
Os líderes deveriam ser capazes, ou seja, capacidade de realizar julgamentos nos casos que lhes seriam trazidos. Os líderes deveriam ser pessoas tementes a Deus. Os líderes deveriam ser homens confiáveis. Os líderes deveriam ser financeiramente incorruptíveis. Capacidade, espiritualidade e caráter (“caráter” sintetiza a confiabilidade e a incorruptibilidade necessárias ao líder).
A partir do caso Jetro podemos compreender alguns aspectos importantes do Pequeno Grupo. Primeiro, o pequeno grupo ocupa um lugar estratégico na vida das comunidades, pois possibilita atender a demandas que não seriam atendidas se não houvesse vários líderes compartilhando as responsabilidades e gerar oportunidades valiosas de treinamento de novos líderes e do uso dos dons. Segundo, um fator crítico para o pequeno grupo é a sua concepção estrutural, ou seja, como o mesmo será organizado em sua estruturação.
Terceiro, outro fator crítico para o pequeno grupo são os líderes. Kornfield chega a dizer que 50% do sucesso do pequeno grupo depende do processo de seleção dos líderes.A seleção, capacitação e contínuo acompanhamento dos líderes de pequenos grupos dentro da estrutura dos mesmos é talvez um dos aspectos mais enfatizados pelos teóricos e práticos de pequenos grupos


Jesus e seu Pequeno Grupo


.Se no Antigo Testamento o texto mais marcante a respeito de um grupo grande que se articula em pequenos grupos é a narrativa do conselho de Jetro, no Novo Testamento não poderíamos deixar de nos maravilhar com a maneira como Jesus utilizou o conceito de pequeno grupo de maneira central no seu ministério.
Intuitivamente, poderíamos esperar que logo após ser batizado e publicar seu ministério, Jesus procuraria impactar o maior número de pessoas por meio de demonstrações públicas de poder e ensino em massa. Assim, ele poderia alcançar o maior número de pessoas no menor tempo possível e aumentar seu impacto. Correto? Errado
Jesus sabia que sua missão não era somente tornar populares seus conceitos e ensinos, mas era expandir o Reino de Deus e a única maneira de fazer isso seria gerar sua própria vida em seus seguidores. Por isso Jesus escolheu o discipulado como a metáfora dominante de seu ministério. Jesus poderia chamar aqueles que o seguiam de soldados, liderados, servos e até mesmo fiéis. Contudo, Jesus preferiu chamá-los de aprendizes.
Como Dallas Willard destaca em seu excelente livro “Conspiração Divina”,11 ser discípulo é ser um aluno, um aprendiz prático e não um mero expectador. Na antiguidade não havia escolas formais como hoje e o conhecimento era passado através de um vínculo de aprendizado entre o professor e o aluno onde a sala de aula era o mundo e o conteúdo da matéria era a própria vida. Jesus fez discípulos e durante seu tempo de caminhada com esses homens o Senhor lhes ensinou mais do que informações a respeito do Reino de Deus: ele os ensinou a serem a própria presença do Reino de Deus
Ser um discípulo de Jesus é ser transformado para pensar, sentir e agir da maneira que o próprio Senhor pensa, sente e age, de tal maneira que a minha vida seja a presença do Reino de Deus entre as pessoas que estão à minha volta.
C.S Lewis expressa isso de maneira fantástica: “O verdadeiro Filho de Deus está ao seu lado. Ele está começando a transformar você em algo semelhante a ele. Está começando, por assim dizer, a "injetar" seu tipo de vida e pensamento, sua zoé, em você; está começando a transformar o soldadinho de chumbo num homem vivo. A parte de você que não gosta disso é a parte que ainda é feita de chumbo”
E como Jesus tornou seu discipulado efetivo e transformador? Jesus utilizou o modelo de pequenos grupos.13 Jesus chamou intencionalmente pessoas para aprender a viver como cidadãos do Reino (Mt 4.18-20) e mais tarde, quando um grande número de pessoas o seguia, Jesus concentrou suas atenções, ensino e relacionamento em doze homens, os apóstolos (Mt 10.1-4). Jesus utilizou o pequeno grupo como elemento transformador da vida daquelas pessoas por meio de um relacionamento íntimo, ensino aplicada as suas necessidades e contextualizado a sua linguagem e compreensão. Eles não possuíam uma mera relação de aprendizado com Jesus, mas eram seus amigos (Jo 15.11-15), eram a sua família (Mt 12.46-50). Jesus nos ensina que por meio dos relacionamentos íntimos do pequeno grupo as pessoas aprendem a viver como cidadãos do Reino, sendo uma estratégia efetiva para o discipulado, amadurecimento e apoio mútuo.
Neste aspecto o pequeno grupo é tanto um ambiente no qual há um compartilhamento da liderança por meio da delegação e descentralização (Jetro), quanto há um meio que possibilita relacionamentos mais francos, íntimos, amorosos e transformadores. Veremos na sequência como a igreja primitiva lançou mão desse modelo.


A Igreja Primitiva em Pequenos Grupos


Jesus trouxe para o centro de seu ministério os pequenos grupos, utilizando esta estratégia de maneira muito eficaz no discipulado. Os apóstolos compreenderam a importância dos pequenos grupos, de maneira que na igreja primitiva os cristãos exerceram tanto a prática de encontros em grande grupo como em pequenos grupos.

No livro de Atos, o narrador nos dá uma breve pintura panorâmica a respeito de como a Igreja Primitiva estava se desenvolvendo em Atos 2.42-47. Este é o primeiro de três “resumos” da vida da igreja que Lucas faz em Atos (1.42-47; 4.32-25; 5.12-16) e descreve aproximadamente os três primeiros anos da vida da igreja em Jerusalém. Neste texto tão conhecido, vemos que os primeiros cristãos se encontravam no templo em grande grupo, como era próprio dos judeus que iam ao templo cultuar ao Senhor, fazer suas orações e ler as Escrituras. Neste momento, a igreja ainda desfrutava de um ambiente pacífico e as perseguições ainda não haviam iniciado. Dessa forma, os cristãos iam ao templo como os judeus o faziam e ali adoravam a Jesus e celebravam coletivamente sua fé.
No entanto, além de se encontrarem no templo, celebravam também a fé cristã nos lares dos que criam. Em pequenos grupos, de maneira íntima e alegre, esses irmãos se reuniam regularmente nas casas para comerem juntos com a mesma constância que iam ao templo em grande grupo. O narrador afirma que os discípulos de Jesus faziam este movimento do grande para o pequeno grupo e vice-versa todos os dias, uma vez que a expressão “todos os dias” se aplica a toda a sentença do versículo 46, segundo Richard N. Longenecker,15 e não apenas a primeira parte do versículo conforme a sugestão da NVI.
A respeito do equilíbrio que havia entre estes encontros de grande e pequeno grupo, é importante relembrar a citação de John Stott quando o mesmo afirma que havia um grande “equilíbrio em relação a dois aspectos: a adoração era tanto formal como informal, pois ocorria no templo e nas casas.Como complemento dos cultos, havia as reuniões mais informais nas casas, além do culto distintivo dos cristãos, com a celebração da Eucaristia.A igreja primitiva praticava os dois tipos de adoração, e nós devemos fazer o mesmo. Todas as congregações, pequenas e grandes, deveriam dividir-se em pequenos grupos”

E como eram essas reuniões em pequenos grupos? O texto nos informa no início sobre as atividades gerais da igreja e provavelmente elas se aplicam também ao que acontecia na reuniões nos lares: ensino, comunhão, partir do pão e orações. Cruz e Ramos afirmam que “na igreja primitiva, também o ensino sobre o reino de Deus aconteceu com maior ênfase em grupos pequenos”. 17 Além do ensino, “um dos elementos indispensáveis nas reuniões caseiras dos primeiros cristãos era a oração”.18 Esse ambiente certamente fez florescer relacionamentos profundos e transformadores, de maneira que também “foi nos lares, em pequenos grupos, que os primeiros cristãos vivenciaram, enfaticamente, uma genuína comunhão”.19 Ensino relevante e aplicado, uma experiência de relacionamentos profundos e transformadores, comer juntos a mesa e uma cultura de intercessão uns pelos outros. Dessa maneira a igreja se apropriou do estilo de vida de Jesus em pequenos grupos.


O conceito de Pequenos Grupos


Após o período da igreja primitiva vieram uma série de ondas de perseguição aos cristãos20 e durante esse período o formato dominante dos encontros dos cristãos foi em pequenos grupos nos lares, tendo em vista os perigos que envolviam o culto comunitário público em grande grupo.
 Contudo, após o Edito de Milão sancionado por Constantino o cristianismo deixou de ser uma religião proibida e dentro em pouco tempo alcançaria o status de religião dominante na Europa, norte da África e Oriente Médio. Aparentemente o conceito da igreja em pequenos grupos foi sendo colocado de lado e cada vez mais a religiosidade medieval se apegava ao templo como o lugar sagrado, o clero como o mediador dessa relação e o culto dominical como forma definitiva de adoração ao Eterno.
Apenas no período da Reforma, com Spener, Wesley e outros o conceito de pequeno grupo ressurgiu com vigor renovado e a partir de então os pequenos grupos migraram para outras diversas áreas de estudo e aplicação, da administração a sociologia
É bom lembrarmos que atualmente a igreja cristã não é a única que está promovendo reflexões, artigos, livros e debates sobre o papel do pequeno grupo na construção social. Na última década sociólogos, psicólogos, administradores, estrategistas, líderes corporativos e acadêmicos nas mais diversas áreas estão com os seus olhares voltados para o pequeno grupo e alguns trabalhos tem lançado luz sobre este conceito.
Os pequenos grupos tem sido motivo de interesse nas mais diversas áreas por que “pequenos grupos provêem níveis de intimidade e suporte emocional que gerações passados tinham em suas famílias, vizinhos e ‘tribos’. Como a sociedade americana se torna cada vez mais instável e sem raízes, pequenos grupos provêem um sendo de comunidade e permitem mobilidade uma vez que os pequenos grupos estão disponíveis ao longo da cidade”
Cruz e Ramos ressaltam que “os pequenos grupos, segundo os sociólogos e psicólogos sociais, por viabilizarem relacionamentos mais próximos, são facilitadores das redes de comunhão, interação e comunicação entre os participantes, permitindo maior funcionalidade e uma dinâmica mais eficaz e criadora em suas atividades”
Logo podemos definir pequeno grupo como “uma modalidade de grupo que congrega uma pequeno quantidade de pessoas, tendo como motivação um objetivo comum a seus participantes. Além da busca de um objetivo comum, existem outras características que definem um grupo como tal, a saber: a interação entre os membros, o dinamismo específico de cada grupos e a comunhão”
Neste sentido, não precisamos ignorar os avanços e descobertas que os mais diversos pesquisadores, cristãos e não cristãos, tem feito no sentido de desvendar os mecanismos de comunicação e cuidado envolvidos no pequeno grupo. No entanto, precisamos nos lembrar que o fato de que a igreja deve buscar construir relacionamentos mais íntimos, profundos e amorosos por meio dos pequenos grupos é a essência que não podemos perder de vista. A maneira como vamos fazer isso, o método, é apenas um meio. Neste preciso momento é muito relevante nos lembrarmos qual é a diferença entre a fonte e o cano.
Em um artigo pequeno mas muito lúcido, Neil Cole utiliza a relação entre os canos de uma casa e a água como uma metáfora para relação que existe entre o método que utilizamos e a graça de Jesus na vida das pessoas.25 O autor nos lembra que assim como os canos não são um fim em si mesmos, mas apenas os portadores da água, que é o que realmente faz os canos úteis, da mesma maneira diferentes métodos ministeriais não são importantes em si mesmos mas apenas relevantes na sua missão de levar o Evangelho até as pessoas.
Dessa forma, é crucial não olharmos para o Pequeno Grupo como se este método fosse por si só a salvação da igreja. Isto não é necessário pois a igreja já tem um Salvador que por ela morreu na cruz do Calvário e que é uma pessoa e não um modelo ou método.
 Nosso ministério nunca deve ser centrado em um método ou modelo, qualquer que ele seja. Deve ser centrado em Jesus e em sua obra redentora, a água que mata a sede do ser humano caído e sedento. O modelo que vamos utilizar e os métodos que vamos eleger respondem a um contexto, a um momento específico e de fato tem o seu lugar, mas apenas como canos e não como fontes do ministério.
Logo, nossa confiança está em Jesus Cristo o Redentor, fundamento e fonte de todo e qualquer ministério, e não em um modelo ou método que pode variar com o tempo e a geografia.




Capítulo 2 A visão, os tipos e os valores do PEQUENOS GRUPOS



Para compreender melhor o modelo do Pequeno Grupo que vamos utilizar, vamos dar uma olhada na visão dos Pequenos Grupos, os tipos de Pequenos Grupos que existem e quais são os valores que norteiam as práticas do pequeno grupo.


A visão de Pequenos Grupos



As igrejas geralmente enfrentam crises devido ao fato de que há uma falta de clareza a respeito da razão de existir de alguns ministérios e trabalhos desenvolvidos na vida da comunidade. Muitas vezes os líderes adotam determinados modelos e métodos embalados pela moda do que está dando certo no momento e isso pode incluir até mesmo os pequenos grupos. John Atkinson toca neste ponto específico ao afirmar:

“Penso que um dos maiores problemas que eu vejo com ministérios de pequenos grupos que falham é que não há uma visão. Não há resposta para a questão “Por que temos pequenos grupos?".

Um grande número de ministérios de pequenos grupos existem por que as igrejas pensam “Bem, nós supostamente devemos ter pequenos grupos”.

Logo, devemos ser capazes de responder a questão: “Por que grupos pequenos existem? Qual sua finalidade?

Ao responder esta pergunta moldamos uma visão para os pequenos grupos. Uma breve consulta na literatura sobre liderança cristã vai nos abrir os olhos para uma série de termos que parecem ser diferentes mas apontam para a mesma realidade: visão, visão teológica, filosofia de ministério, missão, propósito, entre outros, são termos que apontam para uma direção muito semelhante.
A visão é algo mais prático do que uma definição teológica e é algo menos pragmático do que um programa de metas e objetivos, de maneira a formar uma ponte entre a teologia e a prática, uma espécie de middleware, nas palavras de Tim Keller.
Donahue nos lembra que “a visão é o retrato do futuro preferível – o que você quer se tornar. Ela deve ser inspiradora e estimular a ação, algo em torno do qual seu grupo deve se unir”
 Uma visão para pequenos grupos deve emergir das Escrituras e explicar de maneira clara e objetiva qual a razão de ser do pequeno grupo, por que as pessoas deveriam participar dele, qual a missão do pequeno grupo e como faremos para cumprila. A articulação da visão deve ir então das Escrituras para um modelo, para uma aplicação na vida da igreja.
O Criador nos criou como seres de relacionamentos e nos entregou quatro relacionamentos perfeitos: nossa relação com o Eterno, nossa relação conosco mesmos, nossa relação com o outro e nossa relação com o meio.31 Mas a queda acabou corrompendo essas relações, ou seja, “houve uma [desconexão] em quatro aspectos da vida do ser humano. O homem se [desconectou] de Deus, dos seus semelhantes, da natureza e de si mesmo”.32 Mas em Cristo fomos reconectados ao Pai, ao outro, a nós mesmos e ao meio.
Enquanto o encontro de grande grupo enfatiza a adoração e o ensino, o pequeno grupo é uma estrutura complementar que possui os mesmos elementos do grande grupo, contudo sua ênfase está na comunhão entre os cristãos, no relacionamento com o outro.
Podemos articular uma visão de pequenos grupos da seguinte maneira:

O pequeno grupo é um grupo de 8 a 12 pessoas que se encontra semanalmente com ênfase nos relacionamentos em um ambiente informal no qual adoramos o Eterno, compartilhamos sobre a sua Palavra e sobre a nossa vida, cuidamos uns dos outros, desenvolvemos e utilizamos nossos dons, oramos uns pelos outros, compartilhamos o Evangelho com os de fora, desenvolvemos amizades e crescemos juntos como discípulos.
A visão deixa claro que o foco do pequeno grupo está nos relacionamentos: nosso relacionamento com Deus e com o outro. O objetivo do PG é conectar: conectarnos com Deus, conectar com o outro e conectar pessoas ao Evangelho através do evangelismo por meio de relacionamentos.
 Obviamente o molde do PG coloca uma grande ênfase na comunhão, de maneira que tudo que o pequeno grupo faz, de estudar a Bíblia a evangelizar, é feito por meio dos relacionamentos interpessoais. Valores como compartilhar/ouvir, cuidar, aceitar e amar devem ser vividos intensamente para que o grupo alcance seus objetivos. Logo, definir e esclarecer os objetivos do pequeno grupo é um dos itens importantes da visão.
Bill Donahue ressalta que os “Grupos Pequenos não são um ministério opcional na igreja – é a própria igreja acontecendo em unidades menores”.33 Isso implica dizer que o Pequeno Grupo é a igreja, mas devido ao fato de acontecer em uma escala menor possibilita uma série de interações e dinâmicas que seriam impossíveis no Grande Grupo. A questão é compreender que o Pequeno Grupo não deve ser visto como um tipo de ministério específico da igreja, mas como a igreja em um contexto diferente


Tipos de Pequeno Grupo


Os pequenos grupos podem assumir diferentes formatos e características dependendo do objetivo pelo qual o PG se reúne. Como afirmam Cruz e Ramos, “tais grupos são definidos em função de seu objetivo”.34 Ainda segundo os mesmo autores “é indispensável que os objetivos grupais estejam estreitamente relacionados com os interesses e necessidades dos membros, sendo essa a base para a formulação de seus objetivos”
Dessa forma, os objetivos do PG acabam determinando seu método e seu funcionamento. Como existem diversos formatos de Pequenos Grupos utilizados por diferentes movimento, é importante compreender os diferentes tipo de Pequeno Grupo. Geralmente cada movimento enfatiza um aspecto do Pequeno Grupo que acaba determinando seu DNA. Alguns enfatizam o pastoreio dos membros da igreja, outros enfatizam o evangelismo, outros enfatizam o cuidado e ainda outros enfatizam a multiplicação dos grupos.
Kornfield e Araújo apresentam uma classificação dos PG’s conforme seus objetivos, mapeando os diferentes tipos de PG que podemos encontrar em diversos materiais e movimentos.
Primeiro o Pequeno Grupo Pastoral, que tem uma ênfase maior no pastoreio dos membros da comunidade reunidos em PG. Esse formato tem “uma reunião de uma hora e meia a duas horas de reunião assim divididas: louvor (15-20 minutos), e tempo de estudo um pouco maior (30-40 minutos). Um período de compartilhar e orar sobre o evangelismo de pessoas não crentes (15-20 minutos). Um tempo maior para compartilhar as necessidades e orar, normalmente em subgrupos de quatro pessoas”
Depois, há o Pequeno Grupo Evangelístico, que como o próprio nome já diz é focado no evangelismo de não cristãos e “funciona com três a cinco membros da igreja que integram uma equipe de ministério dedicado ao evangelismo [...] A reunião se aproxima mais, em estrutura, ao grupo híbrido dirigido requerendo apenas uma hora”
Já o Pequeno Grupo Híbrido procura tanto pastorear os membros da comunidade reunidos em PG quanto alcançar não cristãos, mesclando assim dois objetivos: comunhão e evangelismo. Este tipo de PG “demonstra flexibilidade de acordo com a visão do líder do grupo, tem uma visão mais evangelística ou mais pastoral. Ele tem uma estrutura simples adequada para uma hora de reunião, sendo: louvor (20 minutos), estudo (20 minutos), compartilhar necessidades e orar (20 minutos) [...] O grupo dá uma cobertura espiritual aos membros da igreja, nutrindo-os na Palavra, oração, louvor, comunhão e evangelismo”.
Há também o Pequeno Grupo de Discipulado que é focado em “formação de liderança; desenvolvimento de caráter cristão, relacionamentos cristãos, disciplinas espirituais e habilidades ministeriais [...] compromisso alto (3-4 horas semanais), prioridade alta e tarefas sérias”
Podemos citar também os Pequenos Grupos de Apoio ou Restauração para Pessoas Feridas, que trabalham com a “restauração de pessoas feridas (divorciadas, alcoólatras, viciadas, vítimas de incesto ou abuso sexual, filhos de lares desfeitos ou com problemas). Este grupo é parecido com um grupo de discipulado, no que se refere a seriedade e compromisso, sendo também, um grupo que estende cuidado pastoral para seus membros”.
Por último, os Pequenos Grupos de Ministério: “sua função é cumprir com uma missão ou tarefa da igreja. Isto inclui grupso como professores da escola bíblica dominical, equipes de louvor, grupos de liderança (diretorias), equipes de visitação, evangelísitca, visitação aos enfermos, ação social, ministério com casais, etc. normalmente cada membro da igreja estaria num grupo pastoral e uma equipe de ministério. Quem lidera um grupo familiar normalmente teria isso como seu ministério principal”.
Podemos afirmar que o nosso modelo se aproxima do Modelo de Pequenos Grupos Híbridos, pois a visão do PG acima modelada afirma que são três os alvos do PG: conectar as pessoas com Deus, conectar os irmãos uns aos outros e conectar o não cristão ao Evangelho. Sendo assim, todo PG se concentra na Adoração, na Comunhão e na Missão tanto quanto o Grande Grupo, sendo que devido ao tamanho reduzido, o PG consegue enfatizar dinâmicas de falar/ouvir, cuidar e aceitar que tornam possível uma comunhão entre os cristãos mais profunda e poderosa. Logo, podemos reduzir os objetivos de nosso PG a três palavras: Adoração, Comunhão e Missão.


Os valores do Pequeno Grupo


Já vimos que “de forma geral, os grupos familiares realizam uma reunião semanal nos lares, onde algumas pessoas se juntam para adorar a Deus, buscar uma vida de comunhão, edificar sua fé através do estudo bíblico, evangelizar pessoas ainda não alcançadas e compartilhar suas necessidades. Esta é a vida da igreja em miniatura”
Contudo, é necessário enfatizar que o mero fato de se iniciar um programa de pequenos grupos na igreja não irá resolver magicamente os problemas de uma comunidade. Para que os PG’s de fato sejam de fato vivos e dinâmicos é preciso mais do que uma estrutura: é necessário se compreender e viver os valores que são o âmago do PG. De nada adiantará uma estrutura de PG se os valores continuarem sendo os mesmos valores equivocados que tem levado a igreja a viver de maneira individualista, indiferente, consumista, impassiva diante do outro e desinteressada de cuidar e servir.
Mas afinal, quais são os valores que são enfatizados pelos pequenos grupos? Quais são as características que uma comunidade deve desenvolver e valores que precisa abraçar para que os PG’s sejam mais do que uma estrutura mas impactem o estilo de vida da comunidade?
O primeiro valor é a ênfase no relacionamento com Deus, na adoração. Não devemos nos esquecer que o fundamento do PG é o desejo de ter relacionamento pessoal com o Pai por meio de Cristo, pois se esse norte for perdido o PG poderá desfocar e se tornar um encontro social, um grupo de desabafo, etc. Se o Eterno for o centro, então tudo mais que ocorre no PG aprofundará o relacionamento das pessoas com Cristo, trazendo crescimento espiritual. Bill Donahue enfatiza que “como um líder de grupo, não se pode causar crescimento espiritual, mas pode-se criar um ambiente que promova e facilite este evento. Este é o motivo de enfatizarmos a utilização da Palavra de Deus, o ensino da oração, a compreensão da ação do Espírito Santo e a formação de relacionamentos autênticos e duradouros no contexto do grupo”
O segundo valor é a ênfase na comunhão, nos relacionamentos interpessoais: “a igreja necessita de uma nova estrutura de vida congregacional que viabilize encontros genuínos entre pessoas, despidas de suas máscaras e desconfianças, num ambiente em que os relacionamentos interpessoais se dão no nível da verdadeira humanidade de Cristo”
Kornfield e Araújo lembram que “hoje, especialmente nas grandes cidades de nosso país, não existe mais comunidade. Se a igreja não despertar para essa realidade e instituir a Segunda Reforma (quanto a eclesiologia), terá dificuldade em ser uma comunidade de amor onde Deus se manifesta”
O terceiro valor é a informalidade. “As reuniões são informais, onde todos se conhecem pelo nome. Todos são encorajados a participar e as necessidades de cada um são importantes como base para oração e ajuda”
O quarto valor é o ensino aplicado. “Diferentemente de uma pregação-ensino para um grande grupo, o estudo bíblico em contexto de pequeno grupo tem por objetivo não somente compartilhar a verdade das Escrituras, mas também estimular a troca de experiências e abordar questão relevantes a seus integrantes”
O quinto valor o cuidado mútuo. O PG deve ter como um valor crucial o cuidar uns dos outros como sinal da vivência do Evangelho entre os membros do grupo. Como afirma com muita propriedade Sampaio, “o amor sem o cuidado não se sustenta, e a permanência do cuidado e sua perseverança só é possível por causa do outro que acolhe, cuida, se compromete, se preocupa e ama”
O sexto valor é a inclusão. Todo PG tende a passar por um período em que os relacionamentos já estão equilibrados e portanto o grupo passa a exibir a tendência de resistir a pessoas que desejam se achegar. Contudo, a ênfase na inclusão tendo em mente a inclusão do próprio Jesus fará com que “que cada célula seja um grupo familiar no qual as pessoas sejam aceitas e amadas”
O sétimo valor é o serviço. Servir é um verbo que está no epicentro da vivência cristã, pois entendemos que este foi o estilo de vida de Jesus e nós não poderíamos pensar e viver de diferente maneira. Entretanto, muitos têm sugerido que “não há, na igreja convencional, nenhum contexto no qual o crente possa ser treinado a produzir, ao invés de consumir”
Silva assevera que “muitos encaram a igreja como uma prestadora de serviços espirituais, na qual podem buscar, quando desejarem, uma ministração forte, uma palavra interessante, uma aula apropriada para seus filhos, um ambiente agradável e assim por diante. Quando, por algum motivo, os serviços da igreja caem de qualidade, esses consumidores saem a procura de outro shopping espiritual mais eficiente. Membros assim não têm aliança com o corpo”
Contudo, o PG coloca em ênfase o fato de que “o sistema de Jesus foi projetado para resultar em produtores e não em consumidores, ou parasitas”
Finalmente, o oitavo valor do PG é a missão. Kornfield e Araújo afirmam que o PG tem basicamente dois objetivos: “o primeiro objetivo é o crescimento qualitativo, que busca o amadurecimento dos participantes. O segundo objetivo é o crescimento numérico, que será atingido através da aproximação de famílias da igreja com seus vizinhos não crentes”
Dessa forma, ao abraçar estes valores os PG’s “geram crescimento qualitativo (maior comunhão, suprimento das necessidades, pastoreio individualizado e ensino prático), crescimento quantitativo (evangelização via relacionamentos, visitantes na igreja, integração de novos convertidos e novas igrejas) e crescimento orgânico (envolvimento das pessoas, novos líderes, mobilização de membros e sensibilidade aos problemas da vizinhança)”
A estrutura de um pequeno número de pessoas reunidas para terem comunhão com o Eterno e umas com as outras proporciona um ambiente que possibilita uma comunhão maior e o evangelismo. Contudo somente se compreendermos e abraçarmos esses valores a vida do PG atingirá seu potencial máximo, sua expressão plena. Estruturas não serão suficientes, mas uma estrutura que permita a vivência de valores orientados pela Palavra são a combinação que resultará em relacionamentos  verdadeiros e vidas transformadas. Afinal, “esta é a vocação da igreja: ser um lugar onde há vida, libertação, cura e aconchego”


O cuidado como valor essencial do PG



Entre os valores do Pequeno Grupo, é imprescindível que seja visto como valor essencial e crucial o cuidado. O PG possibilita ao líder e ao grupo como um todo a possibilidade de dar e receber cuidado, formando assim uma cultura de cuidado mútuo que deve ser o coração pulsante do PG. Sampaio destaca em sua dissertação “Pequenos Grupos, Grandes Desafios” o valor do cuidado na construção de um PG acolhedor e curador para seus membros.

Sampaio cita Leonardo Boff, ao lembrar que “o cuidado possui duas significações relacionadas. A primeira tem a ver com uma atitude de desvelo, de solicitude e de atenção com relação a outra pessoa. A segunda atitude seria a de preocupação e de inquietação, já que quem cuida se sente afetivamente envolvido com a pessoa cuidada”

Nos pequenos grupos essa é uma preocupação constante: a construção de um vínculo afetivo sem o qual não há possibilidade de confiança e amizade. Outro aspecto importante da atitude de desvelo e de solicitude para com a pessoa cuidada é a responsabilidade e o compromisso do moderador líder e de seu auxiliar no acompanhamento sistemático da pessoa que está sendo cuidada o grupo, ou seja, o moderador líder juntamente com seu auxiliar são responsáveis para que cada membro do grupo receba um cuidador que oferecerá toda ajuda necessária.

O cuidado é o que torna o PG de fato uma família, uma comunidade ajuntada em torno da mesa em nome de Cristo, pois “sem o cuidado, o amor não ocorre de verdade, não se conserva, não expande e não propicia a possibilidade de encontro entre as pessoas”.
Por meio do cuidado os membros do grupo amparam tanto uns aos outros como aconchegam e acolhem os que que chegam ao grupo. Sampaio afirma que esta experiência é a prática do holding. Este termo provém do inglês “hold”, que significa “segurar, amparar” e arremete a experiência da mãe que segura seu filho junto ao colo:
“A experiência do holding é exercida pelo pequeno grupo, o conter, o segurar, o sustentar e a disposição para amar e cuidar do outro”.
 Acima de tudo, o cuidar uns dos outros dentro do PG deve ser compreendido como o exercício prático do amor cristão, pois “o amor sem o cuidado não se sustenta, e a permanência do cuidado e sua perseverança só é possível por causa do outro que acolhe, cuida, se compromete, se preocupa e ama”.
Um dos principais elementos para que o grupo compreenda o cuidado como valor central é que o líder do PG abrace conscientemente esse valor e o demonstre na sua liderança: “o moderador líder cuida melhor através do pequeno grupo, uma vez que o pequeno grupo cria vínculos com seus membros, na medida em que acompanha a vida de seus integrantes no dia a dia”.
Portanto, o líder deve compreender seu papel pastoral de cuidar dos membros do PG e levá-los por seu exemplo ao cuidado mútuo. Dessa forma o PG desenvolverá uma cultura de cuidado e amor prático em seu meio.
É importante relembrar o fato de que grande parte da literatura ressalta a necessidade do PG se manter de fato como um pequeno grupo, ou seja, um grupo de 08 a 12 pessoas, pois um número maior de pessoas tornaria o desafio de cuidar impossível para o líder.
Donahue afirma: “Recomendamos a porcentagem de 1:10 – para cada líder de grupo até dez membros podem ser bem cuidados. Como líder voluntário na igreja, seu tempo é voluntário. Pastorear um rebanho de 6 a 10 pessoas representa um desafio completamente alcançável”.
Portanto, o cuidado do PG está ligado ao fator 10: o líder cuida de cerca de 10 pessoas no PG e motiva a cultura de cuidado mútuo por meio do compartilhamento e da oração. É importante interiorizar o cuidado como valor essencial do PG, pois do contrário será apenas mais uma reunião, apenas mais uma agenda a ser cumprida. O que torna o encontro do PG uma realidade curadora, transformada e impregnada da graça é o desejo de cuidarmos uns dos outros e isso começa pelo líder do PG.




Capítulo 3     – As Estruturas do Pequeno Grupo



Além de uma visão e de valores bem definidos, o PG possui estruturas que possibilitam o seu funcionamento. Essas estruturas se relacionam ao PG em si mesmo e a uma estrutura maior na qual o PG está inserido.

A seguir, vamos compreender melhor como funciona a Macroestrutura do PG e a microestrutura do PG



A Macroestrutura do PG



Depois de compreendermos os valores e os princípios que norteiam o PG, é importante compreendermos a necessidade de criar estruturas para o mesmo. Donahue provoca a seguinte reflexão: “a estrutura serve as pessoas ou as pessoas servem a estrutura? Muitas organizações (e muitos grupos pequenos), sem saber, criam um sistema que vê as pessoas como recursos ou combustível para impulsionar a organização”.
As estruturas não devem ser vistas como um fim em si mesmas, mas como servas de um fim maior que, em nosso caso, é cumprir a visão do Pequeno Grupo de ser um lugar de relacionamentos profundos com Deus, com o outro e de cuidado mútuo. Esse é o objetivo maior, mas para atingi-lo precisamos de uma estrutura, cujo papel é de organizar e viabilizar.
Tendo em mente que as estruturas não são um fim mas um meio para se atingir um bem maior que deve ser a edificação da Igreja de Cristo, podemos visualizar as estruturas do PG olhando de duas perspectivas: a macroestrutura e a microestrutura.
A macroestrutura diz respeito a todo o sistema de cuidado e discipulado em cadeia necessário para que os líderes dos pequenos grupos possam receber cuidado, apoio, direcionamento e ensino de seus superiores e assim por diante, de maneira que ninguém fique sozinho no PG.
Dessa forma, a macroestrutura dos PG’s é a cadeia hierárquica de cuidado e também de autoridade que estrutura os pequenos grupos. Ralph Neighbour Jr. atribui os seguintes nomes para esta estrutura de baixo para cima: o líder do PG cuida de cerca de 10 pessoas; acima dele o supervisor cuida de 3 a 5 líderes; acima do supervisor o pastor de congregação cuida dos supervisores; o pastor de distrito cuida dos pastores de congregação e acima destes há o pastor geral.Sampaio utiliza a nomenclatura semelhante a Neighbour mas insere o termo “moderador” nas instâncias a fim de ressaltar o papel do líder na construção do diálogo e das interações dentro do grupo e não como detentor das mesmas.
Já Bill Donahue utiliza de baixo para cima os seguintes termos: líder do PG; orientador; líder de divisão e líder de área.66 No entanto, o princípio básico operante de todas esta estruturas macro é o mesmo: o cuidado, o apoio, o direcionamento e a prestação de contas é feita de maneira que ninguém fique sozinho. Como afirma Donahue, esta é “uma estrutura em que os líderes e monitores possam ser cuidados ao mesmo tempo em que cuidam de outros”.
Embora os termos variem, o conceito é o mesmo: o líder do PG poderia ficar solitário e sem cuidado, como acontece com grande parte da liderança dentro das comunidades cristãs, devido ao seu lugar de liderança. Isto é evitado e contornado pelo fato do líder ter acima dele um supervisor que o ajuda a lidar com as questões relativas tanto ao PG como da vida como um todo.
Logo, a função da macroestrutura é fornecer cuidado e apoio de maneira que ninguém, independente de sua maturidade ou experiência, ninguém fique sem receber cuidado e sem prestar contas.
Portanto, nossa macroestrutura é a seguinte: o líder e o co-líder do Pequeno Grupo cuidam de 08 a 12 pessoas. O Supervisor cuida de até 03 líderes e co-líderes. O Pastor e o Conselho cuidam dos supervisores por meio do pastoreio próximo e discipulado.




                                                                 PASTOR CONSELHEIRO
                                                                                   ,,,
                                                                           SUPERVISOR
                                         ......                                .........                                 ............
                                       LÍDER                           LÍDER                                LÍDER
                                     CO-LÍDER                     CO-LÍDER                        CO-LÍDER


A Microestrutura do PG



Além de uma macroestrutura na qual os PG’s estão inseridos, há uma microestrutura relativa a cada PG, sua estrutura interna. O papel da microestrutura é definir os papéis dentro do PG.
Diferentes modelos sugerem diferentes tipos de papéis, que vão desde um número estritamente reduzidos de papéis – apenas líder e membros – até modelos com múltiplos papéis como no modelo proposto Bill Donahue, que sugere 9 papéis baseando-se em um modelo criado por Carl George. Esses papéis são os seguintes: líder, aprendiz de líder, babá (cuida de crianças em PG’s que as têm), anfitrião, RCE (sigla que indica um membro que “Requer Cuidado Extra”, alguém que esteja passando por necessidades e/ou problemas), o discípulo em crescimento, os interessados, o orientador e a cadeira vazia (a cadeira vazia na verdade é um símbolo que “representa o desejo da igreja de incluir e assimilar novas pessoas na estrutura do grupo”).
Cada Pequeno Grupo pode utilizar papéis acessórios para preencher necessidades específicas, como o caso do papel “Babá”, que pode ser necessário em alguns grupos.
Contudo, o nosso modelo de Pequenos Grupos tem uma microestrutura muito clara, com quatro tipos de integrantes dentro dele: o Líder, o Co-líder (um líder em treinamento), o Anfitrião e os Membros do grupo.
Esta estrutura básica é muito utilizada por vários autores e mostra a definição dos papéis mais básicos dentro do grupo. O Líder é o responsável pelo cuidado, pela moderação das discussões, pela agenda do PG entre outras coisas. O Co-líder é um líder em treinamento que ajuda o líder e se prepara para liderar seu próprio grupo após a multiplicação. O Anfitrião recebe o grupo em seu lar,que se torna a base do Pequeno Grupo. Quando nenhum dos membros pode receber o PG em seu lar, é função do Anfitrião receber o PG e acolher os membros. Os Membros por sua vez tem um papel ativo na construção das relações, do diálogo e do cuidado.
A “Cadeira Vazia”, como será visto em seguida, é utilizada em nosso Pequeno Grupo mas não é definido como um papel e sim como uma dinâmica. Dessa forma, assim como a macroestrutura tem o papel importante de prover cuidado e prestação de contas a toda a liderança, a microestrutura visa definir os diferentes papéis dentro do PG de maneira que todos possam tanto compreender o funcionamento do PG como se engajar nele. Quando cada integrante compreende seu papel no PG também percebe que mesmo o membro que não possui atribuições de liderar ou receber o grupo em sua casa possui a atribuição de participar ativamente desta família com suas orações, seu compartilhar, sua atenção e sua presença. Não há lugar para expectadores ou consumidores de religião no PG, pois para construirmos relacionamentos verdadeiros baseados em cuidado e em amor todos teremos que sair de toda e qualquer condição de inércia e apatia e nos engajarmos na construção dessa pequena comunidade.


                                                                   MEMBRO

                                             MEMBRO                        MEMBRO



                                     LÍDER                                           CO-LÍDER


                                        MEMBRO                               MEMBRO

                                                  MEMBRO      ANFITRIÃO

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